As crianças com DA apresentam dificuldades na organização motora de base que inclui;
ü Tonicidade;
ü Postura;
ü Locomoção e equilibração;
ü Lateralização;
ü Direccionalidade;
ü Imagem do corpo;
ü Estruturação espácio-temporal;
ü Praxias global e fina.
Ao nível da tonicidade, as crianças com dificuldades de aprendizagem podem apresentar um perfil hipertónico, associado a uma hiperactividade e impulsividade, ou um perfil hipotónico, ligada a uma baixa actividade motora. Podem apresentar também alterações ao nível da extensibilidade do tronco e dos membros, com a presença de paratonias e sincinésias, distonias e disquinésias (Fonseca, 1984; Fonseca & Oliveira, 2009).
Ao nível da equilibração, ocorrem com dificuldades na imobilidade, no equilíbrio estático e dinâmico, com constantes reequilibrações abruptas ou quedas (Fonseca, 1984).
Ao nível da lateralização e da direccionalidade, as crianças com dificuldades de aprendizagem expressam hesitações e confusões na organização motora, não reconhecendo o seu corpo como referencial de orientação primária, secundária e terciária, o que se traduz numa dificuldade de direccionalidade e na projecção das noções espaciais, como esquerda-direita, cima-baixo, dentro-fora ou frente-atrás, fundamentais nas aprendizagens simbólicas (Fonseca, 1984).
Ao nível da noção do corpo, as crianças tem dificuldades na diferenciação das diferentes partes do corpo, com alterações do desenho do corpo e dificuldades na imitação de gestos (Fonseca, 1984).
Na estruturação espácio-temporal, estas crianças evidenciam problemas na memória a curto prazo espacial e rítmica e na realização sequencial de gestos, com dificuldades na representação topográfica do espaço e em relacionar o espaço agido com o espaço vivido (Fonseca, 1984), apresentando também problemas de orientação, navegação e estruturação do espaço e do tempo, com fraca memória e reprodução de ritmos (Fonseca & Oliveira, 2009).
Ao nível da praxia global e fina, as crianças com dificuldades de aprendizagem podem ter problemas de impulsividade ou lentidão, com dismetrias na coordenação óculomanual e óculo-pedal. Os problemas de organização tónica interferem com a dissociação dos movimentos, que apresentam alterações na realização, da velocidade e precisão dos movimentos globais e finos. São crianças que têm ainda dificuldade na dissociação digital e na dextralidade, sendo-lhes difícil separar as funções de iniciativa e suporte das mãos, bem como a planificação das tarefas (Fonseca, 1984).
As aprendizagens da leitura, escrita e cálculo estão dependentes da evolução das possibilidades motoras, uma vez que só a partir de um certo nível de organização motora, de coordenação fina dos movimentos e de uma integração vivida espácio-temporal se podem desenvolver estas aprendizagens (Fonseca, 1984). Uma psicomotricidade instável ou mal integrada compreende uma linguagem corporal mal aprendida, repercutindo-se nas capacidades de atenção, processamento e planificação cognitiva, necessários à aprendizagem (Fonseca & Oliveira, 2009). Assim, a probabilidade de surgir uma dificuldade de aprendizagem aumenta quando a criança não tem a possibilidade de integrar psiquicamente as experiências motoras e espaciais (Fonseca & Oliveira, 2009). Gibello (1969, cit. por Fonseca, 1984) considera que as dificuldades de aprendizagem da leitura podem advir de aspectos exteriores ou interiores, que são inerentes ao indivíduo e podem implicar desorganizações e bloqueios corporais, desorganizações do espaço e do tempo, problemas óculo-motores e problemas de lateralização.
Ligada às dificuldades na leitura, pode estar a dificuldade em escrever correctamente as palavras. Esta incapacidade pode dever-se a problemas de percepção auditiva ou dificuldades na compreensão da linguagem (Fonseca, 1984). As palavras mal escritas podem expressar dificuldades de discriminação sonora, de omissão de fonemas, de inversão de sílabas ou de letras, de agrupamentos de palavras homófonas, dificuldades de ligação, faltas de leitura, dificuldades em ligar o som com o grafismo, falta de acentos, confusão entre homófonas e homónimas, etc. (Fonseca, 1984).
Para Fonseca (1984), a escrita é um investimento motor, uma actividade gráfica que é realizada num espaço bem definido. Contar, numerar, seriar é fundamentalmente agir, tocar e manipular objectos, deslocá-los, transportá-los, juntá-los, classificá-los (Fonseca, 1984). A manipulação dos objectos possibilita a primeira experiência de classificação e constituição de conjuntos (Roch, 196, cit. por Fonseca, 1984).
As discalculias representam incapacidades de compreensão dos números e das suas operações, com uma perda da possibilidade de executar operações aritméticas (Fonseca, 1984). Trata-se de uma dificuldade de organização espacial que origina uma incapacidade operativa por má colocação dos números e por desconexação lógica das propriedades que os ligam, o que pode estar ligado a problemas agnósticos unilaterais e espaciais, apraxias construtivas, asomatognósias, problemas óculo-motores, agnosias de objectos e de imagens, problemas direccionais e vestibulares, agnosias de volumes, pesos, numerações, seriações, generalizações, etc. (Fonseca, 1984). Trata-se de um problema de relação de espaço e da manipulação de algarismos, que impedem as operações lógicas, dedutivas e formulativas (Fonseca, 1984).
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