domingo, 15 de maio de 2011

DISGRAFIA

DISGRAFIA

A escrita é a mais complexa forma de expressão da linguagem. Para aquisição são necessários vários requisitos, entre eles destaca-se a boa integridade da linguagem auditiva, da memória, da coordenação motora em geral e óculo-manual em particular.
A aprendizagem da linguagem escrita exige que a criança seja capaz de memorizar e ordenar em sequência determinada ideia, deve também, estar apta a planejar e esquematizar a colocação das palavras em um espaço demarcado, a seleccionar e usar formas aceitáveis para as letras. Estas habilidades estão em um grau de maturação satisfatória, geralmente, por volta dos seis anos de idade, época ideal para se iniciar o processo de aquisição da linguagem escrita (Freitas, 2004).
Devido à sua complexidade, a escrita é a última forma de linguagem aprendida. Sendo assim, qualquer desordem nas demais manifestações de comportamento verbal, afectam-na directamente. Há entretanto, distúrbios que só ocorrem no processo de aquisição da escrita. Entre eles destacam-se as chamadas disgrafias (Freitas, 2004).

O que é a Disgrafia????

A disgrafia é uma perturbação resultante de um distúrbio na integração visual motora. Isto não significa que haja uma alteração no sistema visual ou motor. O que existe é a incapacidade de transmitir informação de um sistema para o outro. Portanto, a criança vê os símbolos, mas não consegue transpô-los para o plano motor. Ela é incapaz, inclusive de fazer cópias, esta é a principal característica que a diferencia da criança disléxica (Freitas, 2004).
 A disgrafia pode afectar o desempenho na aritmética, onde a dificuldade pode se reflectir na escrita dos números ou em seu alinhamento no papel, na compreensão de conceitos de espaço, distância e tempo. Existe, entretanto, casos de bom rendimento em aritmética, principalmente quando as questões podem ser respondidas de forma oral (Freitas, 2004).
Em casos de disgrafia mais severos a criança não consegue segurar o lápis de forma correcta. Noutros casos as crianças são capazes de fazer desenhos simples, mas não sabem como fazer cópias. Quando os disgráficos conseguem reproduzir uma palavra de maneira legível, é comum que ocorra distorções nas sequências de movimentos enquanto escrevem (Freitas, 2004). São diversos os níveis de disgrafia, desde a incapacidade de segurar um lápis ou de traçar uma linha até a apresentada por crianças que são capazes de fazer desenhos simples, mas não de copiar figuras ou palavras mais complexas (Freitas, 2004).

CLASSIFICAÇÃO DA DISGRAFIA
No que diz respeito à disgrafia, esta pode ser de dois tipos:
Tipo disléxico, origina erros de conteúdo e coincide com a disortografia, segundo Fernández (1978), cit. por Torres et al (2001), uma projecção da dislexia e semelhante a esta (má percepção das formas, da sua colocação nas palavras, etc);
Tipo motor, provoca erros que afectam a forma e o traçado da escrita (movimentos gráficos dissociados, tonicidade alterada, sinais gráficos indiferenciados, manejo incorrecto do lápis, etc) devido a descoordenações ou alterações psicomotoras (Fernández, 1978, cit. por Torres et al. 2001).

Disgrafias

Disgrafia motora ou caligráfica, esta incide sobre a qualidade da escrita, provocando a alteração dos aspectos grafomotores: perturbações na forma e no tamanho das letras, espaçamentos deficientes entre as letras e as linhas, inclinações defeituosas, ligações indevidas entre as letras, perturbações da pressão, entre outras.

Além destas classificações, relativas à sintomatologia, existe um outro tipo de classificação que inclui os factores envolvidos na etiologia da disgrafia (Pérez, 1985, cit. por Torres et al, 2001):
Disgrafia de desenvolvimento ou primária – letra defeituosa (quando é a perturbação mais importante exibida pela criança) com origem de tipo funcional ou de maturação;
Disgrafia sintomática ou secundária – condicionada por uma componente caracterial, pedagógica, neurológica ou sensorial. Trata-se de uma manifestação sintomática de uma perturbação de importância superior. Neste tipo de disgrafia a má letra deriva apenas da alteração de factores de natureza motora.

Citoler (1996 cit. por Freitas, 2004) faz uma distinção entre disgrafias adquiridas e disgrafias evolutivas ou desenvolvimentais.
Nas disgrafias adquiridas, os indivíduos depois de terem aprendido a escrever de modo adequado perdem essa habilidade num maior ou menor grau como consequência de uma lesão neurológica. Estas são subdivididas em disgrafia central (quando uma ou ambas as vias de acesso léxico estão afectadas, com consequências na produção escrita das palavras) e disgrafia adquirida periférica (refere-se às dificuldades nos processos motores – da escrita – posterior à recuperação léxica das palavras).
A disgrafia adquirida central pode ser fonológica (quando os transtornos são na via fonológica ou indirecta), superficial (quando os transtornos são na via ortográfica ou directa), profunda (quando os transtornos ocorrem em ambas as vias) e semântica (quando se escreve sem se compreender o significado daquilo que se escreve).
Os indivíduos com disgrafia fonológica apresentam um transtorno ao nível da conversão de fonemas em grafemas, conseguindo apenas utilizar a via léxica. A principal manifestação desta dificuldade é a incapacidade que o indivíduo tem em escrever pseudopalavras, embora consiga escrever palavras que têm representações ortográficas. Neste tipo de disgrafia são também cometidos erros derivativos: escrever “bebe” em vez de “bebia” (Cruz, 1999 cit. por Freitas, 2004).
Aqueles indivíduos que possuem disgrafia profunda têm dificuldade nas palavras irregulares e nas pseudopalavras. Os erros mais característicos são os semânticos, uma vez que estes indivíduos ao escrever um ditado ou espontaneamente substituem uma palavra por outra do mesmo campo semântico: escrever “lua” em vez de “estrela” ou “sobrinho” em vez de “primo”.
A disgrafia desenvolvimental ou evolutiva pode ser de vários tipos: superficial (quando há dificuldades na aquisição da via ortográfica ou directa), fonológica (quando há dificuldades na aquisição ortográfica ou directa) e mista (quando há dificuldades na aquisição de ambas as vias) (Ellis, 1995, cit. por Salles et al, 2006 e Cruz, 1999 cit. por Campanudo, 2009).

De acordo com Pallarés (2002), a disgrafia pode ainda agrupar-se em três subtipos, de acordo com os mecanismos neurológicos implicados:
A disgrafia que se baseia na linguagem consiste na dificuldade para construir correctamente as palavras escritas. Para se poder escrever é preciso que, a partir de um fonema, se construa o grafema mediante a escritura. Os erros de ortografia são mais frequentes em palavras que contêm grafemas ambíguos ou pouco diferenciados, visto que oferecem uma maior dificuldade para a sua discriminação. Também os grafemas que possuem fonemas similares representam uma “fonte” fácil de erros (Pallarés 2002).
Segundo Pallarés (2002), a disgrafia de execução motora refere-se à capacidade de precisão da motricidade requerida para escrever manualmente. Trata-se por tanto, de um problema puramente motor e não está relacionado directamente com os mecanismos de leitura. Como pode haver dificuldades práxicas que afectam a planificação e programação, além da má letra, estas crianças podem mostrar erros ortográficos.
A disgrafia visuo-espacial relaciona-se com uma baixa capacidade visuo-espacial. Traduz-se por uma deficiente distribuição da escrita no papel e por uma dificuldade para acertar correctamente as separações entre as palavras (Pallarés 2002).


ETIOLOGIA DA DISGRAFIA
De acordo com Torres e Fernández, (2001), os factores etiológicos que podem influenciar a perturbação disgráfica podem advir de:
1) Causas de tipo maturativo – perturbações da lateralidade, perturbações da eficiência psicomotora;
2) Causas caracteriais – factores da personalidade, factores psico-afectivos;
3) Causas pedagógicas – orientação deficiente do processo de aquisição de destrezas motoras; ensino rígido e inflexível, orientação inadequada da mudança de letra de imprensa para letra manuscrita, ênfase excessiva na qualidade ou rapidez da escrita, prática da escrita como actividade isolada das exigências gráficas.
Segundo Linares (1993), cit. por Torres et al (2001), as causas mais habituais para a disgrafia são de origem motora. No entanto, existem outros factores que podem influenciar esta perturbação (Torres et al., 2001):
As causas do tipo maturativo reflectem-se em perturbações da lateralidade, sendo as mais frequentes, o ambidextrismo e os “canhotos contrariados”; perturbações da eficiência psicomotora (crianças com motricidade débil; crianças com perturbações ligeiras do equilíbrio e da organização cinético-tónica e crianças instáveis).
Nas causas do tipo maturativo distinguem-se apenas duas categorias claramente: as crianças desajeitadas do ponto de vista motor (idade motora inferior à idade cronológica) – fracassam em actividades que exigem rapidez, equilíbrio e coordenação fina; pegam mal no lápis, têm uma escrita lenta; o grafismo é formado por letras fracturadas e grandes, a pressão é insuficiente e a postura gráfica incorrecta; e as crianças hipercinéticas – a sua escrita é rápida, apresenta irregularidade de dimensões, traços imprecisos, exercem uma pressão muito intensa, etc.
As causas do tipo maturativo manifestam-se sobre tudo em perturbações do esquema corporal e das funções perceptivo-motoras, onde se inclui: as perturbações da organização perceptiva a nível psicomotor (a escrita apresenta dificuldades nas rotações, tendência para inversões simétricas, etc); as perturbações da estruturação e orientação espacial (estes défices relacionam-se com uma ausência de definição de lateralidade e com falta de interiorização do esquema corporal, o que leva a uma escrita com alterações da direcção, posições erradas relativamente à linha de base, etc); e as perturbações do esquema corporal (o défice na interiorização do esquema corporal leva a alterações na escrita como uma postura corporal inadequada, um grafismo lento e cansativo e uma forma anómala de segurar o lápis).

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