O acto de escrever implica várias operações cognitivas, das quais Fonseca (1999, cit. por Vilar, 2010) refere: a intenção; a formulação de ideias, fazendo apelo à re-memorização das unidades de significação; a chamada das palavras à consciência; a colocação das palavras seguindo as regras gramaticais; a codificação com base na sequência das unidades linguísticas; a mobilização dos símbolos gráficos e fonéticos equivalentes; a chamada de padrões motores e a praxia manual e escrita.
Fonseca (1999, cit. por Vilar, 2010) diz-nos que a escrita implica processos de gráficos e linguísticos, sendo que este último inclui a codificação (habilidade para escrever palavras) e a composição escrita. Para Citoler (1996, cit. por Vilar, 2010) e García (1995, cit. por Vilar, 2010), a escrita abrange quatro módulos: o de composição, o sintáctico, o léxico e o motor. O módulo de composição implica a memória a longo prazo, o contexto de produção do texto e o processamento (Citoler, 1996, cit. por Vilar, 2010), sendo que este inclui a planificação, tradução e a revisão (Cruz, 2009).
O módulo sintáctico relaciona-se com a escrita de textos através da construção de frases, seguindo regras e estruturas gramaticais próprias da língua (Cruz, 2009). Ellis & Young (1997), Citoler (1996) e García (1995), referidos por Cruz (2009), consideram que os processos léxicos estão ligados à escrita adequada de palavras, seguindo duas vias: a léxia, ortográfica visual ou directa e a subléxica, fonológica ou indirecta.
No módulo motor é feita a conversão dos grafemas em movimentos motores gráficos (Cruz, 2009). A escrita implica um controlo preciso das partes corporais activas, como os dedos, a mão e o pulso, que se alcança pela inibição das partes passivas, antebraço, braço e ombro (Adelantado, 2002 cit. por Vilar, 2010). Lagrange (1977 cit. por Vilar, 2010) refere que é importante que a criança consiga libertar a mão e executar movimentos precisos, e que consiga dar aos sons uma forma gráfica.
Assim, observa-se que a escrita implica factores grafomotores, linguísticos (níveis sintáctico, léxico e semântico) e textuais e contextuais (Cruz, 2009). Segundo Ajuriaguerra (1964, cit. por Fonseca, 1984), a escrita é ao mesmo tempo um processo de praxia e de linguagem, sendo uma actividade gnoso-práxica, em que a cópia é realizada com base em estímulos visuais, o ditado está dependente de estímulos auditivos e a redacção é independente de estímulos sensoriais.
O acto de escrever implica uma grafomotricidade (Adelantado, 2004; 2002 cit. por Vilar, 2010), sendo que o desenvolvimento grafomotor está dependente de algumas aquisições prévias: uma coordenação visuomotora ajustada, constância da forma, memória visual e auditiva, uma correcta pega de preensão do lápis, boa coordenação entre preensão do lápis e pressão sobre o papel, uma integração do traço na estrutura bidimensional do papel, a automatização do varrimento perceptivo-motor, a capacidade para codificar e descodificar simultaneamente os sinais visuais e auditivos, uma melodia cinética na rotação e encadeamento de sequências (Adelantado, 2002 cit. por Vilar, 2010). García (2003, cit. por Vilar, 2010) refere que a grafia passa por duas fases: o reconhecimento (implica um mecanismo de ensaio para compreender a dimensão, direccionalidade, relação e orientação que permita aceder à escrita) e a apropriação (em que se desenvolve uma estrutura mental estável que permite diminuir o esforço de reconhecimento).
A aprendizagem da escrita é mais vasta que a mera execução gráfica, implica a aprendizagem de símbolos que possibilitem a expressão escrita, que deve seguir as regras fonológicas, ortográficas, sintáxicas e gramaticais para que seja compreendida (Adelantado, 2002 cit. por Vilar, 2010). Já no que diz respeito, ao nível cognitivo, este baseia-se em três processos: planificação (organização de ideias), transcrição (processo motor e linguístico) e revisão (Salvador, 1997, 1999, 2000, cit. por Vilar, 2010). A escrita engloba diferentes processos: perceptivo-motores (realização do traço sobre um suporte com um utensílio), cognitivos (conhecimento, memória, discriminação, elaboração conceptual, associação grafema-fonema) e linguísticos (representação de ideias em texto) (Correig, 2000, cit. por Vilar, 2010). As disgrafias podem surgir por alterações em qualquer um destes processos (Adelantado, 2004 cit. por Vilar, 2010).
Qualquer problema na percepção pode originar problemas ao nível da coordenação óculo-motora, com consequências como dispraxias na motricidade fina e problemas no processo de aprendizagem (Melo, Ribeiro & Martins, 2007, cit. por Vilar, 2010), nomeadamente na escrita. A escrita e a sua aprendizagem implicam duas grandes componentes ou funções, a codificação e a composição, em cada uma das quais podem surgir distintas alterações: a) a disgrafia – é uma perturbação de tipo funcional que afecta a qualidade da escrita, no que se refere ao traçado ou à grafia (Torres e Fernández, 2001, cit. por Campanudo, 2009); b) a disortografia – relaciona-se com a composição escrita, aqui destacam-se problemas ao nível da planificação e da formulação escrita (Campanudo, 2009), ou seja, segundo Vidal & Manjón (2000, cit. por Campanudo, 2009) a disortografia refere-se às dificuldades de “escritura que comprometem específicamente el aprendizaje y la automatizatión de los processos responsables de la generalizatión de una representación ortográfica apropriada para la palavra hablada.
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