A aprendizagem integra quatro componentes cognitivas essenciais: o input (informação dos sentidos visual, auditivo e táctilo-quinestécico), a cognição (processos de atenção, memória, integração, processamento simultâneo e sequencial, compreensão, planificação e auto-regulação), o output (acções como falar, desenhar, ler, escrever, contar ou resolver problemas) e a retro-alimentação (repetir, organizar, controlar, realizar) (Fonseca, 2005)
As dificuldades de aprendizagem podem surgir em qualquer uma destas componentes cognitivas, podendo ser consideradas desordens neurológicas que interferem com a recepção, integração ou expressão da informação, caracterizando-se por uma acentuada discrepância entre o potencial e a prestação escolar da criança (Correia & Martins, 1999; Ribeiro & Martins, 2007, cit. por Vilar, 2010). Nesta designação de dificuldades de aprendizagem podem englobar-se várias desordens, que se expressam em dificuldades na aquisição, compreensão e utilização da informação ligada aos processos cognitivos associados à linguagem, como a fala, a leitura e a escrita, aos processos mentais de raciocínio e cálculo, e aos processos ligados a aptidões sociais (Melo, Ribeiro & Martins, 2007 cit. por Vilar, 2010).
As disfunções cerebrais que originam as dificuldades de aprendizagem podem ocorrer na recepção (problemas de processamento perceptivo e de captação de informação), na integração (problemas de retenção-memória, elaboração ou de rechamada), na expressão (problemas de ordenação, sequencialização, planificação e execução) ou na transferência ou tradução (transdução) entre os processos (Fonseca, 1984).
As crianças com dificuldades de aprendizagem apresentam um potencial intelectual dentro ou acima da média, sem perturbações auditivas ou visuais, estão motivadas para aprender e inseridas num processo educativo que se revela eficaz para a maioria (Fonseca, 2005). No entanto, podem apresentar dificuldades em diferentes tipos de aprendizagem: (I) simbólica ou verbal, em competências escolares ou académicas, como ler, escrever e contar; ou (II) não simbólica ou não verbal, em competências psicossociais ou psicomotoras, como orientar-se no espaço, desenhar ou interagir socialmente com o outro (Fonseca, 2005).
As dificuldades de aprendizagem incidem sobretudo nas aprendizagens simbólicas da leitura, escrita e matemática (Fonseca & Oliveira, 2009), envolvendo disfunções nos processos de recepção, integração, elaboração e retro-alimentação de informação, e também nos sistemas neurofuncionais da aprendizagem (Fonseca, 2005a, 2005b, in Fonseca & Oliveira, 2009), o que interfere com as aprendizagens escolares.
A definição, a que se atribui actualmente grande importância, é a elaborada pelo National Joint Committee on Learning Disabilities (NJCLD) e que afirma que:
“as dificuldades de aprendizagem é um termo geral que se refere a um grupo heterogéneo de desordens manifestadas por dificuldades significativas na aquisição e uso da audição, fala, leitura, escrita, raciocínio, ou habilidades matemáticas. Estas desordens são intrínsecas ao indivíduo, presumivelmente devem-se a disfunções do sistema nervoso central e podem ocorrer ao longo da vida. Problemas na auto-regulação comportamental, percepção social e interacção social podem existir com as dificuldades de aprendizagem mas não constituem por eles próprios uma dificuldade de aprendizagem. Embora as dificuldades de aprendizagem possam ocorrer concomitantemente com outras condições desvantajosas (handicapping) (por exemplo, dificuldades sensoriais, deficiência mental, distúrbios emocionais sérios) ou com influências extrínsecas (tais como diferenças culturais, instrução insuficiente ou inapropriada), elas não são o resultado dessas condições ou influências” (NJCLD; 1994, cit. por Correia, 2004).
Correia, em 2005, tendo por base as definições existentes, a investigação produzida e a sua experiência o mesmo autor, propôs a seguinte definição:
“ As dificuldades de aprendizagem específicas dizem respeito à forma como um indivíduo processa a informação – a recebe, a integra, a retém, e a exprime, tendo em conta as suas capacidades e o conjunto das suas realizações. As dificuldades de aprendizagem específicas podem, assim, manifestar-se nas áreas da fala, da leitura, da escrita, da matemática e/ou resolução de problemas, envolvendo défices que implicam problemas de memória, perceptivos, motores, de linguagem, de pensamento e/ou metacognitivos. Estas dificuldades, que não resultam de privações sensoriais, deficiência mental, problemas motores, défice de atenção, perturbações emocionais ou sociais, embora exista a possibilidade de estes ocorrerem em concomitância com elas, podem, ainda, alterar o modo como o indivíduo interage com o meio envolvente.” (Correia, 2005, cit. por Oliveira, 2010).
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